domingo, 4 de julho de 2010

"Darwin e o Darwinismo", de Denis Buican

"Darwin e o Darwinismo" - Denis Buican
Jorge Zahar Editor


Como de hábito, perambulando em um dos muitos sebos do centro de São Paulo, deparei-me com o livro "Darwin e o Darwinismo", do professor da Sorbonne, Denis Buican. Embora o autor seja mais um daqueles que colaboram no processo de "endeusamento" do naturalista inglês, quando discorre, por exemplo, acerca da eugenia, ele, no entanto, não nega a influência de Darwin neste âmbito:

Para Darwin, a jóia da civilização europeia é o mun do anglo-saxão: "A superioridade notável que tiveram, so bre outras nações europeias, os ingleses, como coloniza-dores, superioridade atestada pela comparação dos pro gressos realizados pêlos canadenses de origem inglesa com os de origem francesa foi atribuída à sua 'energia persistente e à sua audácia'; mas quem poderia dizer como os ingleses adquiriram essa energia? Certamente, há muita verdade na hipótese que atribui ã seleção na tural os maravilhosos progressos dos Estados Unidos, assim como o caráter de seu povo; os homens mais cora josos, mais enérgicos e mais empreendedores de todas as partes da Europa emigraram durante as dez ou doze últimas gerações, para irem povoar esse grande país e lá prosperaram."
Assim, Darwin volta à sua teoria da seleção natural, para explicar o progresso da humanidade e dos po vos: "Se não tivesse sido submetido à seleção natural durante os tempos primitivos, o homem, certamente, nunca teria atingido a posição que ocupa hoje. Quando vemos, em muitas partes do mundo, regiões extremamen te férteis, povoadas por alguns selvagens errantes, en quanto poderiam alimentar numerosas famílias próspe ras, inclinamo-nos a pensar que a luta pela existência não foi suficientemente rude para forçar o homem a atin gir seu estado mais elevado.
Falando da ação da seleção natural sobre as nações "civilizadas", Darwin fica muito próximo das ideias de Wallace e Galton, isto é, da eugenia: "Entre os selvagens, os indivíduos fracos de corpo ou de espírito são pron tamente eliminados, e os sobreviventes são geralmente notáveis por seu vigoroso estado de saúde. Quanto a nós, homens civilizados, fazemos, ao contrário, todos os es­forços para deter a marcha da eliminação; construímos hospitais para os idiotas, os inválidos e os doentes; fa zemos leis para ajudar os indigentes; nossos médicos utilizam toda a sua ciência para prolongar, tanto quanto possível, a vida. Podemos crer que a vacina preservou milhares de indivíduos que, fracos de constituição, te riam outrora sucumbido à varíola. Os membros débeis das sociedades civilizadas podem, pois, reproduzir-se in definidamente. Ora, quem trata de reprodução de ani mais domésticos sabe perfeitamente quanto essa perpe­tuação dos seres débeis deve ser nociva à raça humana".
Apesar desse temor pela descendência do homem, na ausência da seleção natural, Darwin, moderado por uma concepção humanista, não leva seu raciocínio até um eugenismo exacerbado, pois, diz ele, abandonando os fra cos e os inválidos, "só poderíamos ter em vista uma van tagem eventual, às custas de um mal presente, conside rável e certo. Devemos, pois, suportar sem nos queixar­mos os efeitos incontestavelmente maus, que resultam da persistência e da propagação dos seres débeis. Parece, todavia, que existe um freio para essa propagação, pois os membros doentios da sociedade se casam menos fa cilmente que os membros sãos. Esse freio poderia ter uma eficácia real, se os fracos de corpo e de espírito se abstivessem do casamento; mas esse é um estado de coi sas que é mais fácil desejar que realizar".

É isso!

Fonte:
DENIS BUICAN. “Darwin e o Darwinismo”. Jorge Zahar Ediror. Rio de Janeiro, 1987, p. 66-67

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