domingo, 4 de julho de 2010

"A expressão das emoções no homem e nos animais", de Charles Darwin

"A expressão das emoções no homem e nos animais" -Charles Darwin
Editora Schwarcz

Acabei de ler "A expressão das emoções no homem e nos animais", de Charles Darwin!
Se não fora à época em que estava inserido seu autor e se não fora a incipiência das ciências biológicas naquele momento , diria que li um trabalho de biologia de um aluno do Ensino Médio da escola pública brasileira. Embora um pouco mais que um pires, o livro destaca-se por ser de leitura menos maçante entre outros do naturalista, como o mais famoso: "A Origem das Espécies". Em todo livro Darwin busca "provar" que tanto as emoções do homem quanto os sentimentos dos animais são óbvios resultados da evolução ao longo dos tempos. Raiva, ódio, bom humor, alegria, desdém, culpa, orgulho, medo, vergonha, timidez, amor etc. são características que se encontram entre todos os povos, e isso em si já serve como demonstração da ancestralidade comum universal. São abundantes as analogias entre as emoções humanas com aquelas supostamente observadas entre as muitas espécies de macacos. Obviamente a idéia é tentar realçar a "semelhança evolutiva" entre ambas as espécies. O macaco, para Darwin, é o nosso parente mais próximo, e as emoções que se vêem nele atestam esta "verdade". Todavia, parece que as crianças transparecem mais esta similaridade, especialmente as "crianças selvagens":

"Vemos assim que a protrusão dos lábios, especialmente em crianças pequenas, é uma manifestação característica de amuo na maior parte do mundo. Esse movimento parece resultar da permanência, principalmente durante a mocidade, de um há bito primevo, ou de ocasional retorno a ele. Orangotangos e chimpanzés jovens protraem os lábios num grau extraordiná rio, como descrevemos em capítulo anterior, quando estão des­contentes, um tanto irritados, ou amuados; também quando es­tão surpresos, um pouco assustados e mesmo quando sentem certa satisfação. Aparentemente, sua boca se protrai com a fi­nalidade de produzir os diversos sons correspondentes a cada um desses estados de espírito; e sua forma, como pude observar no chimpanzé, difere um pouco no momento de emitir os gri tos de prazer ou de raiva. Tão logo esses animais ficam furio sos, a forma de suas bocas se modifica inteiramente, e os dentes são expostos. Dizem que o orangotango adulto, quando ferido, emite "um grito singular, que se inicia com notas agudas que vão se transformando em ronco grave. Enquanto solta as notas agudas, ele protrai os lábios em forma de funil, mas nas notas graves deixa a boca bem aberta". No gorila, aparentemente o lábio inferior é capaz de se alongar muito. Portanto, se nossos ancestrais semi-humanos protraíam os lábios quando amuados ou um pouco irritados — da mesma maneira como o fazem os atuais macacos antropoides —, não é um fato anômalo, ainda que curioso, nossas crianças exibirem resquícios da mesma ex­pressão quando no mesmo estado de espírito, juntamente comcerta tendência a produzir ruído. Pois não é de forma alguma estranho os animais conservarem, mais ou menos perfeitamen­te, na tenra infância, para mais adiante perderem, as caracterís­ticas nativas de seus ancestrais adultos, e que ainda são conser­vadas por espécies distintas, seus parentes próximos.
Também não é excepcional o fato de as crianças selvagens terem mais tendência a protrair os lábios quando amuadas do que as crianças europeias civilizadas; pois a essência da selvageria parece consistir na manutenção de uma característica pri mitiva, o que também se aplica, ocasionalmente, a peculiarida des físicas" (p. 199).

As passagens sobre os "diferentes tipos de raças humanas" florescem toda a obra: "Entretanto, se observarmos as diferentes raças do homem, esses sinais não são tão universalmente empregados quanto eu esperaria" (p. 235). / "A expressão de tristeza, gerada pela contração dos músculos da tristeza, de forma alguma se restringe aos europeus, mas parece ser comum a todas as raças humanas" (p. 160). / "Pelas respostas que recebi dos questionários que enviei, homens de todas as raças franzem o semblante quando estão por alguma razão perplexos" (p. 190). / "Entretanto, não é de forma alguma improvável que essa expressão animalesca seja mais comum entre as raças selvagens do que entre as civilizadas" (p. 214). E por aí vai...

É claro, em se tratando de Darwin, não poderia faltar aquela pitoresca pérola, com a qual encerro essas minhas ligeiras impressões:
"O dr. Maudsley, depois de fornecer uma série de detalhes sobre traços animalescos nos idiotas, indaga se eles não se deveriam ao reaparecimento de instintos primitivos — "um apagado eco de um passado distante, atestando um parentesco que o homem já quase deixou para trás". Ele acrescenta que como todo cérebro humano passa, ao longo de seu desenvolvimento, pelos mesmos estágios dos vertebrados inferiores, e como o cérebro de um idiota é retardado, podemos presumir que ele "manifestará suas funções mais primitivas e nenhuma função superior". O dr. Maudsley acredita que essa mesma hipótese pode ser estendida ao cérebro em estado de degeneração de alguns pacientes loucos. E pergunta de onde vêm "o rosnado furioso, a disposição violenta, a linguagem obscena, os uivos selvagens e os hábitos agressivos manifestados por alguns dos loucos? Por que deveria um homem, privado de sua razão, tornar-se de caráter tão brutal, como é o caso de alguns, a não ser que a natureza brutal esteja nele próprio?" (p. 208).

É isso!

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